Conferência sobre violência escolar: Conclusões e fotos da conferência

"Apostar na aprendizagem e no sucesso escolar dos

alunos para prevenir a violência escolar”


A Associação de Investigação Científica do Atlântico (AICA), promoveu no dia 30 de Abril do corrente ano, no Auditório do Centro de Estudos de História do Atlântico, a conferência subordinada ao tema “Apostar na aprendizagem e no sucesso escolar dos alunos para prevenir a violência escolar”, cujo orador convidado foi o Profº. Doutor Leandro de Almeida, Presidente do Instituto de Educação e Psicologia, da Universidade do Minho, destinada a todos os Professores dos vários níveis de ensino, Educadores de Infância e Psicólogos que trabalham nas Escolas da RAM.
 













 

 

 

Conclusões da Conferência


1. A violência escolar nos tempos de hoje
Hoje a violência escolar está na ordem do dia. É um dos problemas mais graves a que assistimos na escola, então nesta conferência analisámos os diferentes tipos de violência e salientei também, que alguns alunos se tornam violentos na escola à medida que a escola pouco ou nada lhes diz. Nessa altura podemos ler a violência de alguns alunos como uma reacção a um ambiente que não lhes é favorável, e como um comportamento de defesa da sua auto-estima. Se pensarmos nesses alunos, então importaria que a escola desenvolvesse competências de estudo e cognitivas de alunos de forma a favorecer o seu sucesso para que não se sentissem marginalizados na própria escola, e este é o desafio que nesta conferência o Doutor Leandro quis deixar aos professores e à escola.

2. Tipos ou formas de violência existem hoje nas escolas
Embora se fale mais na violência física, associada a comportamentos visíveis de agressão de mais fortes sobre alunos mais frágeis, importa que a escola não assume apenas essa forma de violência. Formas menos visíveis de violência existem e marcam as vítimas psicologicamente. Os professores devem estar atentos a formas mais ténues de violência pois ou se previnem tais situações ou é muito frequente que tais formas evoluam para comportamentos violentos cada vez mais acentuados e disruptivos em relação à ordem e à vida escolar. Por vezes, a simples desobediência ou o alheamento de um aluno face às tarefas escolares são já actos deliberados de indisciplina e de violência, e ou a escola actua de imediato ou passado uns meses tais comportamentos e atitudes assumiram formas de maior gravidade.

3.A investigação na área da violência escolar
A investigação aponta que o problema se está a agudizar em termos de maior frequência e de maior intensidade, começando em níveis escolares cada vez mais baixos. Os problemas neste domínio são muito complexos, e na sua origem não está a escola. A família e a comunidade, por isso, terão que ser chamados a analisar as situações de violência e a contribuir para a sua superação. A investigação aponta a sociedade violenta e sem valores, havendo a percepção entre os professores que o problema começa a não ter solução dentro da própria escola. Outro dado relevante é que a violência não ocorre apenas em certas escolas localizadas em meios sociais mais desfavorecidos, ou apenas junto de grupos minoritários. Estas ideias podem fazer-nos menos sensíveis a sinais precoces de violência, o que geralmente só agrava o problema. A investigação mostra que geralmente se intervém apenas quando os problemas são já muito graves, e geralmente liga-se mais aquilo que possa ser dito ou vir a dizer na comunicação social do que à voz dos pais e dos professores.


4. Significado da violência
A violência na escola pode reflectir um aluno com fraco desenvolvimento social e moral, um aluno pouco integrado nas normas sociais ou um aluno que no seio da família nunca aprendeu as regras mínimas da convivência social. Lógico que a escola aqui tem que informar, esclarecer e punir. Noutras situações, podemos ver que o caminho da violência escolar aparece trilhado por alunos que não conseguem na escola aprender e ter sucesso nas suas aprendizagens. Este aluno sente que a escola lhe é hostil e nessa altura, para defender a sua auto-estima, pode entrar nos caminhos da violência em relação aos colegas e aos próprios professores. Ambos os casos traduzem alunos violentos, mas na causa estão situações diferentes e a nossa actuação como educadores terá que ser distinta num e noutro caso.

5. Intervenção nas Escolas
É mais fácil identificar que resolver os problemas. As autoridades educativas, seja ao nível das escolas sejam ao nível dos governantes, lidam mal com a violência dos alunos. Como não é uma situação normal, a primeira tendência é escondê-la, não a mencionar ou então tentar negar responsabilidades quando os casos aparecem. Veja-se a situação do pequeno Leandro que se suicidou umas semanas atrás e como toda a gente procurou ilibar-se da ocorrência, apesar dos relatórios e das denúncias que haviam sido feitas às autoridades. Felizmente, temos uma reduzida percentagem de agressores e também uma não elevada quantidade de vítimas, mas o que faz a escola para prevenir? Acho que a escola não existe sem professores, mas escolas só com professores são hoje ineficazes face à complexidade dos problemas que nela ocorre. Equipas multidisciplinares são necessárias e acima de tudo é preciso prevenir. Isto só se consegue através de programas e de actividades que ajudam os alunos a conviver, a cooperarem com os outros, a desenvolver valores e as competências de relacionamento interpessoal e, sobretudo, a aprender e a ter sucesso nas suas aprendizagens. Os professores terão também que aprender a melhor gerir a sua sala de aula, a planificar as actividades a realizar para o tempo de duração das aulas. Se pensarmos que a violência não ocorre em todas as escolas e com todos os professores, podemos pensar nas variáveis mais decisivas e pensar como actuar para prevenir.

6. Papel da Família neste problema escolar
É muito importante envolver a família e a comunidade na análise do problema e na intervenção. Um aluno violento na escola, por norma, tem uma família ausente ou pouco envolvida na vida escolar desse aluno. Os estilos educativos dos pais em casa são pouco favoráveis ao controlo do problema, por vezes a violência destes alunos ocorre já em casa onde os pais podem ter maior margem de tolerância até porque são dois adultos face a uma criança o que já não acontece na sala de aula onde podemos ter um adulto apenas e 25 alunos na frente. Os pais têm que ser ajudados, pois não sabem educar. Nos dias que correm face a uma cultura televisiva de violência, facilitismo e consumismo, os pais não sabem como educar e com alguma facilidade estão presos dos caprichos dos seus filhos, fazendo-lhes todas as vontades e nada conseguindo impor ou frustrar. Aqui, temos que promover a boa comunicação entre família e escola, pois podemos estar a culpar os pais e mais não estamos a culpar quem está já indefeso para lidar com os problemas.

7. Quanto ao futuro
À medida que o problema se torna mais grave mais medidas punitivas vão ser assumidas. Claro que o problema da poluição de um rio não deve ser solucionado na foz, mas o mais próximo possível da nascente. Gastamos mais dinheiro a corrigir que a prevenir, gasta-se mais dinheiro na atenção à meia dúzia de alunos particularmente violenta que com os oitenta por cento que procura gostar e aprender na escola. É o absurdo da nossa sociedade pois preferimos gastar recursos e energias remediando problemas. O bem-estar dos alunos na escola é fundamental e se estão na escola e não aprendem, então começam a surgir problemas. Importa cuidar de uma forma consciente em iniciativas que favoreçam a convivência social dos alunos, mas isso pressupõe tempo e recursos, e estes andam na maioria das vezes a tentar apagar os fogos!


A Direcção da AICA